domingo, 8 de janeiro de 2012

Confundindo modelos de sucesso e fórmulas de sucesso


O aspecto mais interessante e que mais me agrada na interação com jovens repletos de sonhos (assim como eu) é a possibilidade de aprender e trocar experiências. Uma das perguntas recorrentes nesta interação é direta e seca: “Como você fez para atingir o sucesso financeiro?”. Alguns preferem a abordagem mais suave: “Existe algum caminho garantido para a prosperidade? Qual?”.
A resposta padrão dos especialistas, “gaste menos do que ganha e multiplique/invista parte de suas receitas”, é honesta e cobre grande parte da jornada, mas é simplista sob o ponto de vista humano, já que não pesa os perfis, as diferentes realidades sociais e o ambiente familiar em que as decisões são tomadas.
Além dos óbvios hábitos de economizar e poupar, costumo recomendar que os jovens tenham mentores e modelos pessoais de sucesso. De preferência, que esses exemplos sejam acessíveis e permitam ampla e irrestrita troca de conhecimento, opiniões e cases reais (situações já vividas). A Internet traz essa possibilidade para a realidade de muita gente.
Modelo de sucesso não é receita de sucesso!
Ai surgem os primeiros problemas e as principais dúvidas. Quem deve ser o modelo de sucesso e por que devo escolhê-lo?
O jovem frequentemente idolatra celebridades e/ou personalidades a partir de seus resultados, e não por conta de uma identificação real com uma habilidade ou característica pessoal. A consequência é que tal ídolo transforma-se em um personagem constantemente imitado, mas cuja história não mobiliza decisões diferentes ou novos hábitos. O que se quer é a consequência, o “depois”. Nem sequer interessa o “antes” ou “durante”. É aquela história: procure saber como vive o seu ídolo e você talvez desista de ser como ele.
A escolha de um mentor difere, portanto, do simples ato de emular o outro que admiramos. Para que haja aprendizado e transformação, é importante que as histórias se misturem e que os caminhos e atividades se relacionem. Aqueles que nos inspiram devem fazê-lo de forma a agregar diferenciais ao nosso cotidiano. Diferenciais capazes de criar janelas de conhecimento e vantagens competitivas.
Então você quer ser “o cara”? Quem não quer?
O assunto chama minha atenção porque é cada vez maior o número de jovens profissionais inspirados ou por Steve Jobs ou por Warren Buffett. Legal, mas quem realmente conhece Steve Jobs e Warren Buffett? Quero dizer, quem sabe como é o ser humano Buffett ou como era o jovem empreendedor Jobs?
Queremos ser como eles ou queremos resultados tão fascinantes como os que eles atingiram? A depender da sua resposta, muito precisará ser revisto no que diz respeito aos modelos de sucesso.
Você provavelmente já leu centenas de livros que falam sobre “como fazer apresentações como Steve Jobs”, “como inovar como Steve Jobs” ou “como gerenciar como Steve Jobs”. Ou quem sabe sobre “o jeito Warren Buffett de investir”, “como analisar balanços como Warren Buffett” ou “as lições de Buffett para o investidor”. Você leu tudo isso e, pasme, só existe uma Apple e uma Berkshire Hathaway.
E muita gente insiste em querer “aplicar” tais “conceitos” em sua academia, clube ou casa noturna. Imagine só um profissional do varejo capaz de inovar tanto como Steve Jobs. Ou um pequeno investidor querendo alavancar sua carteira de ações com os ensinamentos de Warren Buffet. A teoria e as lições inspiram, são válidas, motivam, mas não são replicáveis sem que os contextos sejam devidamente explorados e compreendidos.
Quem foi o filho, aluno, pai, cidadão, amigo, chefe, marido Steve Jobs? Como ele viveu? Que experiências pessoais vivenciou? Fracassou? O que fez diante de suas falhas?
E Warren Buffett, quem ele realmente é? Como lida com as pessoas em seu dia a dia? Realmente fez tudo sozinho ou inspirou-se em um mentor? Deu sorte ou especializou-se em uma área? Arriscou? Qual foi sua estratégia para motivar-se a criar resultados realmente surpreendentes?
São tantas as pessoas interessantes à sua volta!
O que quero dizer é que devemos nos esforçar para ter contato com exemplos de sucesso mais factíveis e, principalmente, mais próximos de nossa realidade. Você já parou para pensar em quanto potencial existe na cidade ou bairro onde mora? Já procurou saber quem são os empresários de sucesso que moram perto de você? Ou quem são os profissionais de destaque de sua área? Por que não conhecê-los?
A possibilidade de trocar experiências com alguém acessível nos coloca diante do ser humano que há por trás de qualquer história de sucesso. Gente que erra, acerta, exagera, decide, faz, reclama, trabalha e adoece. Insisto nisso porque nem toda fórmula de sucesso é replicável, mas todo contato influencia o quanto aprendemos e reforça a importância do exemplo. Conhecer de perto boas histórias ensina muito mais que apenas conhecer e repetir boas histórias.
Por fim, prefira sempre as biografias.
Não pense que sou contra a leva de livros que usam uma figura mítica para passar uma mensagem (quase sempre comercial). Eu só acho que conhecer o mito de perto pode ser muito mais interessante e proveitoso. Assim, se o seu modelo de sucesso for mesmo Steve Jobs ou Warren Buffet, comece pelas biografias oficiais: “Steve Jobs por Walter Isaacson” (Cia das Letras) e “A Bola de Neve” (Sextante).
E lembre-se: se quiser realmente se inspirar em alguém, procure alguém disposto a ser seu mentor; alguém parecido com você, com interesses semelhantes e que queira passar algum tempo também aprendendo com você. É impressionante o que uma conversa de poucos minutos em um café pode fazer por um jovem inteligente e ambicioso. Evite a tentação de basear-se em fórmulas de sucesso. Prefira “quem” a “como”.

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